CIÊNCIA POLICIAL E A PERSPECTIVA DE FEYERABEND SOBRE O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Palavras-chave:
Ciência Policial, ciências policiais, feyerabend, contra o método, polícia baseada em evidências, anarquismo epistemológicoResumo
A definição do que seria uma Ciência Policial (ou Ciências Policiais, no Brasil) permanece em discussão. A despeito disso, seu objeto parece bem delimitado: toda a atividade de Polícia e tudo o que impacte o policiamento e a ordem pública. Este escopo, extremamente amplo, implica na adoção de múltiplas metodologias – “emprestadas” de outras disciplinas, visto a ausência de uma metodologia própria. Não obstante a multiplicidade metodológica, o conhecimento produzido pela Ciência Policial deve levar em consideração o conhecimento tradicional, produzido pelas experiências das instituições policiais e de seus membros, bem
como aspectos éticos e jurídicos. Isso sugere que a adoção de uma epistemologia mais lata, como as propostas de Paul Feyerabend, contribuiria muito para a produção do conhecimento na Ciência Policial. Ao longo do estudo, foram discutidos diversos aspectos da epistemologia de Feyerabend, aplicados aos estudos da Ciência Policial. Destacaram-se os quatro pontos centrais em sua obra: o anarquismo epistemológico, a contraindução, a incomensurabilidade e o interacionismo. A proposta de Feyerabend também foi contraposta com discussões filosóficas acerca da Ciência Policial e alguns pontos presentes em discussões recentes sobre polícia baseada em evidências. Concluiu-se que, para uma produção científica de maior qualidade e de maior aplicabilidade, é necessária a interação entre o conhecimento científico e o conhecimento tradicional das polícias. Essa interação pode se dar através da imersão de acadêmicos nas polícias, ou de policiais na academia. Porém, independentemente da forma, é necessário o desenvolvimento intelectual dos próprios policiais para que a aproximação seja possível e frutífera.
Referências
FEYERABEND, Paul K. Against method. 3 ed. London: Verso, 1993.
FEYERABEND, Paul K. Ciência em uma sociedade livre. São Paulo: Unesp, 2011.
FEYERABEND, Paul K. Ao término de um passeio não-filosófico entre os bosques. In: FEYERABEND, Paul K. Diálogos sobre o conhecimento. São Paulo: Perspectiva, 2012.
HOLCR, Kveton; PORADA, Viktor; HOLOMEK, Jaroslav; PIWOWARSKI, Juliusz. Theoritical Foundations of Police Sciences. Secutiry Dimentions, v. 2015, n. 14, p. 17-28, 2015.
HUEY, Laura; MITCHELL, Renée; KALYAL, Hina; PEGRAM, Roger. Implementing evidence-based research: a How-to Guide for Police Organizations. Bristol: Bristol University Press, 2021.
JAMES, Lois; VILA, Brian; DARATHA, Kenn. Results from experimental trials testing participant responses to White, Hispanic and Black suspects in high-fidelity deadly force judgment and decision-making simulations. Journal of Experimental Criminology, v. 9, n. 2, p. 189–212, 2013. DOI: https://psycnet.apa.org/doi/10.1007/s11292-012-9163-y.
JASCHKE, Hans-Gerd; BJØRGO, Tore; ROMERO, Francisco B.; KWANTEN, Cess; MAWBY, Robin; PAGON, Milan. Perspectives of Police Science in Europe: Final Report. Bramshill: 2007.
JASCHKE, Hans-Gerd; NEIDHARDT, Klaus. A Modern Police Science as an Integrated Academic Discipline: A Contribution to the Debate on its Fundamentals. Policing and Society: An International Journal of Research and Policy, v. 17, n. 4, p. 303-320, out.- dez. 2007.
LEAL, Halina M. Paul Feyerabend e Contra o Método: quarenta anos do início de uma provocação. Cadernos IHUideias, v. 14, n. 237, p. 3-16, 2016.
LLOYD, Elisabeth A. Feyerabend, Mill, and pluralism. In: PRESTON, John; MUNÉVAR, Gonzalo; LAMB, David. The worst enemy of science? Essays in memory of Paul Feyerabend. New York: Oxford, 2000. p. 115-124.
NÄGEL, Christof; VERA, Antonio. Police science as an emerging scientific discipline. International Journal of Police Science & Management, v. 22, n. 3, p. 242-252, set. 2020.
SANDEL, William L.; MARTAINDALE, Hunter; BLAIR, J. Pete. A scientific examination of the 21-foot rule. Police Practice and Research, v. 22, n. 3, p. 1314-1329, 2021. DOI: https://doi.org/10.1080/15614263.2020.1772785.
SIM, Jessica J.; CORRELL, Joshua; SADLER, Melody S. Understanding Police and Expert Performance: When Training Attenuates (vs. Exacerbates) Stereotypic Bias in the Decision to Shoot. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 39, n. 3, p. 291–304, 2013. DOI: https://doi.org/10.1177/0146167212473157.
TAYLOR, Paul L. “Engineering Resilience” Into Split-Second Shoot/No Shoot Decisions: The Effect of Muzzle-Position. Police Quarterly, v. 24, n. 2, p. 185–204, 2021. DOI: https://doi.org/10.1177/1098611120960688
TUELLER, Dennis. How Close is Too Close?. SWAT Magazine, mar. 1983. Disponível em: <http://www.theppsc.org/Staff_Views/Tueller/How.Close.htm>.
WOOD, Dominic; COCKCROFT, Tom; TONG, Stephen; BRYANT, Robin. The importance of context and cognitive agency in developing police knowledge: Going beyond the police science discourse. The Police Journal: Theory, Practice and Principles, v. 91, n. 2, p. 173-187, 2018. DOI: https://doi.org/10.1177/0032258X17696101.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Categorias
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Ciência & Polícia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.